A teoria do Gatekeeper é compreendida como uma das teorias básicas que explicam a origem e a natureza do jornalismo. Seu principal conceito gira em torno do “filtro” da notícia, daquele que, literalmente falando, seria como um “porteiro” da transmissão noticiosa; é esse indivíduo (aqui compreendendo indivíduo como um sentido mais amplo, que pode também representar uma instituição ou grupo) que colhe informações, seleciona o que interessa e o que pode ser descartado e divulga a notícia.
Esta teoria, por sua estrutura naturalmente controversiva, põe em discussão dois pontos conflitantes na definição pura do jornalismo. À medida que aponta alguém como responsável pela seleção daquilo que será transmitido até a última ponta da cadeia comunicacional, a teoria do Gatekeeper abre espaço para que o jornalista exerça o poder de escolha. Tal possibilidade, contudo, depõe contra a premissa básica de que os jornalistas devem ser, acima de tudo, neutros no desenvolvimento de sua profissão.
Carla d´Aiola, em seu artigo “A Função do Gatekeeper na Imprensa”, esclarece as origens dessa teoria, que remontam a pesquisas realizadas por David Manning White. White analisou a atividade de Mr.Gates, um jornalista de meia-idade que trabalhava para um jornal médio norte-americano. Ele fez anotações por uma semana, a respeito do que o fazia descartar as notícias que não serviam. Através dessa análise, White salientou duas categorias principais do que deveria ou não ser publicado: a primeira diz que a notícia pode ser rejeitada devido a sua pouca importância (neste ponto novamente encontra-se materializada a importância primária da subjetividade na atividade jornalística, uma vez que o nível de interesse a que determinada notícia pode atingir passa, em primeira instância, pelo crivo das concepções pessoais do jornalista que analisa os fatos), enquanto a segunda afirma que tal seleção pode ser feita a partir do caráter “inovador” da notícia (que torna-se defasada caso apareça repetida em diversas formas, formatos e meios diferentes).
Além dos aspectos subjetivos inerentes ao profissional do jornalismo, a Teoria do Gatekeeper ainda apresenta aspectos que dizem respeitos às dinâmicas sociais, empresariais e organizacionais da sociedade, além de fatores externos que influenciam no desenvolvimento da seleção das notícias (assim como o tempo e a pressão sofrida pelo jornalista).
Ainda que muito criticada, até os dias de hoje essa teoria gera discussão sobre um dos fundamentos básicos da atividade jornalística: a postura ética de neutralidade assumida por aqueles que são responsáveis pela transmissão dos fatos. Em virtude disso, juntamente com a Teoria do Espelho e com a Teoria Organizacional, a Teoria do Gatekeeper pode ser vista como um ponto singular na eterna busca humana pela auto-referência existencial. Mesmo quando essa auto-referência assume contornos tão marcantes quanto a simples e direta representação da realidade que nos cerca.
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