terça-feira, 12 de maio de 2009

Quando o "porteiro" é você

A historinha que vou contar aconteceu há alguns meses, antes de a personagem quebrar o pé – como se isso tivesse alguma relevância para o texto.

Minha mãe Zilma trabalha como cozinheira em uma escola municipal de Blumenau, lugar que ela adora, onde é rodeada por pessoas de quem gosta. Em um belo dia, antes de sair para o trabalho, o telefone tocou. Era um colega da igreja comunicando o falecimento do sogro de uma amiga sua. O sogro da Rosa. Imediatamente, minha mãe ficou chocada, pois imaginou a tristeza que estaria a Rosa, que também trabalhava na mesma escola. Prometeu a si mesma que iria ao velório quando voltasse do trabalho, para consolar a família.
Chegando à escola, porém, ela estranhou ao ver a amiga trabalhando tranquilamente. "Como pode ninguém ter contado a ela? Talvez ela tenha saído antes que alguém pudesse lhe dar a notícia" pensou. Então, caberia à minha mãe informar sua amiga. O choque foi grande. A amiga teve uma crise de choro e foi para casa imediatamente, a fim de se preparar para velar o corpo do sogro.
Só na hora do almoço que minha mãe se deu conta dos reais fatos: sua amiga do trabalho é a Rosane, e não a Rosa.
Quando tudo se esclareceu, Rosane ficou alguns dias sem falar com a minha mãe, por causa do constrangimento que passou. Felizmente, o tempo tratou de cicatrizar essa ferida, hoje as duas se dão bem.

Trouxe esse exemplo próximo apenas para mostrar o quanto é importante estudar bem a informação antes de divulgá-la. Minha mãe conhece também o sogro da Rosane, sua colega de trabalho, mas nem parou para pensar que eles moram bem longe, logo, o velório não seria na nossa paróquia. Visto isso, devia ser outra pessoa. Essa falha de comunicação poderia ter acabado com uma amizade.

A teoria do GateKeeper, estudada em sala, nos traz exatamente isso, esse poder que o Jornalista tem de dizer "isso é importante" e "isso não é tão importante". É ele o "porteiro", o cara que seleciona o que entra ou não na sua pauta e, consequentemente, o que vira notícia ou não. Sentiu a responsabilidade? Imagine então se o jornalista comete uma gafe como essa da minha mãe e acaba matando o prefeito por engano em sua matéria? Lá se vai uma carreira gloriosa por água abaixo.

Fato é que, nesse mundo da informação em alta velocidade – onde cada blogueiro é um GateKeeper completo, já que é também um selecionador de informação – apurar os fatos fica sempre em segundo plano. Importa é chegar na frente da concorrência, vender jornal, ganhar mais e mais dinheiro. Nem que, para isso, tenham que matar o sogro da pessoa errada por engano.

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