terça-feira, 17 de março de 2009

A Teoria do Agendamento na cobertura das enchentes

DIEGO RAMON VALLE VITAL
A cobertura jornalística das enchentes de Novembro, no Vale do Itajaí, realizada pelos meios de comunicação de todo o país, concentrou em si uma série de aspectos condizentes com a teoria do agendamento. Assim como Lasswell afirmou, pôde-se perceber que os meios de comunicação seriam capazes de estabelecer uma agenda temática junto do público: ainda que a catástrofe fosse real e bem visível a todos, cada novidade sobre o desenrolar da situação dos atingidos que surgia na mídia era prontamente absorvida pela população, passando a figurar em todas as conversas de esquina. Além dessa forte influência social, este tema – bem como a forma com que foi trabalhado pelos diferentes meios – fez-se presente de diversas formas ao longo das semanas em que vigorou no ápice dos noticiários.

A repetição da notícia, o volume estrondoso de vezes em que os acontecimentos relativos às enchentes vigoravam na mídia, foi facilmente percebido. Dessa forma, não foi uma mentira repetida infinitas vezes que se tornou uma verdade, mas um fato ocorrido, transmitido, informado e absorvido pela população, de forma massiva e contundente, que se tornou parte do cotidiano da população.

Juntamente com essa repetição, a abrangência geográfica dos veículos de comunicação teve importância na forma como as notícias foram divulgadas: meios regionais, mais próximos dos acontecimentos, dedicaram-se 24 horas por dia para cobrir os fatos, ao passo que meios nacionais, situados geograficamente num ponto mais afastado do epicentro das enchentes, de início, limitaram-se a tratar de forma esporádica os fatos. Prova desse “engajamento regional” foi a cobertura do jornal O Município Dia-a-Dia, da cidade de Brusque, analisada neste post.

A onipresença dos fatos também ficou evidente, uma vez que até mesmo as editorias esportivas (para ficarmos em um exemplo único) passaram a dar importância e espaço à cobertura das enchentes depois que as chuvas passaram a interferir nos acontecimentos esportivos da região (como a realização dos JASC, por exemplo). Já a saliência, por sua vez, também esteve presente, uma vez que em todos os habitantes do Vale do Itajaí residia a vontade e o interesse de informar-se, de saber aquilo que estava acontecendo para além dos limites de sua residência.

Um dos resultados mais visíveis desse agendamento foi o “saber cognitivo” estendido aos diversos segmentos da população: ainda que superficialmente, toda e qualquer pessoa tornou-se capaz de discutir, comentar, propor sugestões e apontar culpados pelo ocorrido. O conhecimento teve trajetória horizontal, alcançado os mais diversos pontos, as mais diversas classes sociais e econômicas. Toda pessoa que lesse ao menos 1 jornal e assistisse 1 programa de notícias pelo período de três dias já seria capaz de criar um panorama completo da situação.

Diante dessa realidade, analisando-se em separado os elementos da teoria do agendamento que mais se fizeram presentes, foi possível recriar o cenário da cobertura dos acontecimentos de Novembro. De um olhar metalingüístico, voltado mais para a forma de noticiar de um meio/órgão do que para as notícias em si, foi possível chegar à conclusão de que o agendamento das notícias, se não é forte o bastante para ordenar os discursos interpessoais (dizendo quais assuntos deveriam figurar nas conversações populares), com absoluta certeza é capaz de sugerir, de propor uma linha de raciocínio à conduta da população diante de tragédias de toda sorte (ou azar, se assim o preferir o preciosismo lingüístico).

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