terça-feira, 7 de abril de 2009

Procura-se alguém que não gostaria de pensar

A antiga pressuposição norte-americana de que a recepção da informação é um ponto de chegada definitivo, há tempos não é mais realidade. Em torno de afirmações como esta, o caminho entre emissor e receptor dá as caras de algo inquestionável e determinantemente exato: o receptor absorve o conteúdo da informação, se formata e fica à mercê de influências decisivas para sua formação. Mas, não é o que acredita Martin Barbero.

Explicar o porquê disso é fácil. Barbeiro repensou o processo ocorrente entre emissor e receptor. Para ele “a recepção é um lugar, uma oportunidade de repensar todo o processo, todos os estudos e pesquisas” e, se pararmos para refletir sobre isso, não é difícil encontrarmos exemplos sobre o quanto estavam furados os antigos princípios norte-americanos.

Reflexo de uma sociedade desprendida de verdades absolutas – sejam elas, as verdades, institucionalizadas pela família, igreja e escola – o ser humano encontrou no ponto final da informação, o início de sua reflexão. É evidente de que esta afirmação possa ainda estar distante da realidade de um país que sofre com déficits de educação, mas, à população que contraria a regra do receptor estático, que age como uma esponja, ela é válida. Longe dessa característica de personagen de desenho animado, o receptor é tratado por Barbeiro não como um fator isolado. O autor afirma que o sucesso da recepção é decorrente de técnicas como a segmentação de um público-alvo. Sem a determinação de um público a ser destinado a informação, como saber quem será nosso receptor?

Posso responder essa, eu acho. Diante da tamanha pluralidade cultural, econômica e política que forma nosso país – reflexo de seu estado democrático e capitalista – não faltam escolhas para a seleção de um público-alvo. Como emissor, fazer de sua mensagem algo verdadeiramente intrínseco à realidade do receptor, está diretamente ligado ao nível de conhecimento de seu público, e, não menos importante: no exercício de uma comunicação mútua, através de feedbacks entre emissor e receptor. Sem isto, voltamos a antiguidade norte-americana onde, apesar de diferentes culturas possivelmente fazerem parte de cada receptor, descartam-se suas capacidades reflexivas mediante do recebimento da informação.

E se Comunicação também é Filosofia, não estaria errado o filósofo alemão Friedrich Nietzsche em tratar os receptores da antiga concepção norte-americana como “ovelhas de rebanho”, prontas a perder sua lã, seu maior bem, o que para nós seria a capacidade de pensar. Alguém descarta isso?

Procuro alguém que não gostaria de pensar.

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